A descoberta de Chiara Lubich é transmitida em inúmeras matrizes nesta coletânea de pensamentos, não só infunde coragem na caminhada, por vezes árdua da vida, como também dá todo um novo sentido e um novo sabor: “Deus nos ama imensamente”.
É frequente perceber por trás das afirmações de Chiara o eco das bombas que caem, as exigências de renovação humana, a resposta da fé a tanta dor sem sentido. Por isso, as repetidas alusões à morte não são sinal de um pensamento pessimista ou um convite à tristeza, mas algo natural, pois, na guerra, a morte é uma experiência diária; mas isso provoca um apelo a que se viva cada minuto em plenitude, mirando àquilo que de fato vale. Aliás, o sofrimento revela-se em seu papel positivo e construtivo. O convite não é apenas a aceitar a dor, mas desejá-la, porque ela é flexão da dor que Jesus sofreu na cruz por nós, por amor. As palavras de Chiara Lubich alçam o voo, quando se trata de dar, a quem a lê, Jesus Abandonado (cf. Mt 27,46; Mc 15,34): um Deus que, por amor, “se esquece” de que é Deus — assim ela se expressa. É aquele esquecimento desejado de quem se imerge totalmente na pessoa amada, até nem mais se lembrar quem é.
As afirmações de Chiara que encontramos nesse percurso possuem a força e a concretude do mestre que deseja ensinar verdades que não provêm dele. Mas existe também a delicada eficácia da prosa de arte, da poesia, como quando escreve: «Não mais preocupações pelo amanhã: Jesus não quer isso. Se você quer se preocupar, Ele a abandona. Mas se você abandona tudo ao seu amor, Ele é que se preocupa com você de maneira admirável». Um conceito basilar e muitas vezes recorrente é o da misericórdia de Deus: outro modo para definir o seu amor, que seria um fracasso (metáfora ousada, mas eficaz) se não houvesse os nossos pecados a serem perdoados dia a dia; como um fogo que, para queimar, precisa consumir lenha e papel.
Chiara torna vã a ideia de um Deus vingativo e julgador, desvendando justamente a ideia do Amor. Mas o Amor pede que seja amado. E, desde quando era muitíssimo jovem, ela vê nisso a sua missão. À luz do amor divino, seus apelos a retribuir esse amor, a se abandonar sem reservas a Deus e a não poupar nada de si por Ele adquirem uma profunda motivação. É um convite à integridade e ao radicalismo. Por isso, Chiara escreve que só Deus tem valor: não porque os aspectos da humanidade não sejam bons, mas porque somente em Deus eles encontram o seu devido lugar, a sua razão de ser. Chiara exprime a necessidade de restituir a Deus o lugar que a Ele compete na gradação dos afetos, de tornar divinos — eternos, estáveis, verdadeiros — os outros amores relacionando-os ao amor por Deus. «Quando o íntimo do nosso ser é de Deus, até as outras coisas têm valor», escreve ela. É uma questão de prioridade. Mesmo sem anular o humano e o terreno, Chiara pede que se repense tudo à luz da descoberta luminosa de que Deus é Amor.
A empresa é árdua. A autora se dá conta disso: «Eu também caio»… Assim Chiara dá coragem a quem sente que não vai conseguir. E talvez seja essa a mensagem mais incisiva que emerge destas páginas: o que conta não é sermos perfeitos já, mas tentarmos sempre de novo, vivendo pelos outros, amando. Chiara faz isso por primeiro, declara-se participante desses esforços, demonstrando que a santidade, essa meta ambiciosa, mas necessária, está realmente ao alcance de todos.