A arte brasileira das últimas décadas acostumou-se à presença crítica e criativa de Maria Bonomi. Seja como gravadora, agitadora ou polemista, Bonomi bisa suas intervenções sempre a partir de um caráter estético e mesmo político, dentro da ideia de que o artista é capaz de interferir − ou melhorar − o meio com sua vida e obra.
Bonomi, assim, navega em duas situações adversas ao temperamento brasileiro − é gravadora e polemista (toma posições). E é mulher.
Sabe-se como no Brasil o incentivo à concórdia é um vício, quase uma disciplina, estimulada desde os bancos escolares, perfazendo algo semelhante a um distintivo moral do país, onde a voz discordante, em solo ou em coro, não atrai imediata simpatia, dado a outro de nossos hábitos: preferir o padronizado ao diferenciado; somos vitimados por nossa intransigência, e desgaste, quando diante do estranho.
E Bonomi é gravadora em um tempo incapaz de compreender o gênero dentro de sua estrita poética, de sua ação múltipla; por estarmos em um tempo ditado pelo econômico, a gravura é percebida como produto de difícil alocação.