O universo de Anna é vasto. De conhecidas paisagens paulistanas aos relatos ancestrais do fascinante universo bíblico; os personagens de Otavio Furman habitam distintas camadas. Em flashes narrativos, o autor se vale da manipulação e reorganização de uma ampla coletânea de citações, trechos de pesquisas, fragmentos da história judaica, diálogos tomados do cotidiano e excertos de tantos outros livros. Para o narrador destas pequenas peças de prosa, o mundo é um compêndio a ser inserido entre aspas. Em “A viagem”, conto que abre este volume, um médico à beira do colapso usa aquilo que lê, ouve e imagina para, desesperadamente, encontrar algum sentido no caos de sua existência. O narrador de Anna sustenta a necessidade convulsa de listar, pesquisar, catalogar. O espectro da literatura e da criação literária também ronda essas páginas. Não se trata somente de uma reflexão sobre o ato de escrever, mas de um registro dos detalhes que entremeiam a produção de um livro. As vozes de “editores” e pessoas que opinaram sobre a própria obra que o leitor tem em mãos invadem a narrativa, vez ou outra, para, sempre entre aspas, sugerir cortes e modificações.