POSFÁCIO DE VLADIMIR NABOKOV
«Nos capítulos iniciais de Anna Karénina, somos conduzidos, uma e outra vez, a um sentido de analogia musical. Há efeitos de contraponto e harmonia no desenvolvimento das principais tramas do “prelúdio Oblonski” (o acidente na estação ferroviária, a zombadora discussão sobre o divórcio entre Vronski e a baronesa Chilton, o deslumbramento do fogo vermelho diante dos olhos de Anna). O método de Tolstoi é polifónico; mas as harmonias principais desen— volvem-se com uma tremenda força e amplitude. As técnicas musicais e linguísticas não podem comparar-se de um modo exato. Mas como poderíamos elucidar de outro modo o sentimento de que as novelas de Tolstoi surgem de um princípio interior de ordem e vitalidade, enquanto as dos escritores menos importantes parecem alinhavadas?»
«Anna Karénina morre no mundo do romance; mas cada vez que lemos o livro ela ressuscita, e mesmo depois de o termos acabado adquire outra vida na nossa recordação. Em cada personagem literária existe algo da Fénix imortal. Através das vidas perduráveis das suas personagens, a própria existência de Tolstoi teve a sua eternidade.»
George Steiner, Tolstoi ou Dostoievski