«Foi através de diversos exemplares de antologia de lendas chinesas que pude chorar junto com Zhinü e Niulang pela triste separação imposta por imperador celestial Jade, jurar ser uma mulher forte e sábia como Mulan quando crescer, sentir pena de Chang'e, aprender a importância de controlar a mente tal como Tang Sanzang treina o macaco Sun Wukong, entender que o orgulho pode levar uma pessoa à tragédia, e desenvolver meu senso do justo, do bom e do belo.
Esse complexo mundo espiritual chinês a partir de narrativas, que envolvem o fantástico e maravilhoso e que misturam a realidade e o místico, é interesse e tema de estudos de muitos estudiosos chineses e sinólogos ocidentais, e a tradução é parte dos trabalhos desses intelectuais. Como tradutora, ouso dizer que é com a tradução que um chinês entende melhor sua cultura e um estrangeiro enriquece o próprio mundo. E não posso deixar de mencionar que nesta obra temos as traduções e adaptações de Richard Wilhelm (1873–1930), Lafcadio Hearn (1850–1904), Rev. John MacGowan (1835–1922) e Norman Hinsdale Pitman (1876–1925). Nela, também há traduções de contos fantásticos de Pu Songling (1640–1715), um escritor chinês da dinastia Qing conhecido por compilar relatos populares de fatos estranhos, e algumas narrativas de Feng Menglong (1574–1646), um literato da dinastia Ming.
Os contos de amor e de heroísmo selecionados para integrar esta obra compartilham o mesmo propósito dos autores previamente apresentados: trazer uma outra forma de ver e entender o mundo e as relações sociais para o imaginário brasileiro. Há ainda muitos trabalhos a serem feitos na comunicação ocidente-oriente, este é apenas um dos primeiros passos. Espero que você — cara leitora e caro leitor — consiga sentir junto com as personagens o que são o amor e o heroísmo na visão dos chineses.»
Yu Pin Fang (Peggy), tradutora