Ao chegar no Brasil, Carlota Joaquina de Bourbon (1775–1830) não suportava a ideia de ver-se convertida em “princesa colonial” e viver no Rio de Janeiro. Preferia a Europa, esclarecida pelo Iluminismo, ainda que incendiada pelas selvagens guerras napoleônicas. Mas a abdicação do trono espanhol por seu pai possibilitava-lhe tornar-se regente do império espanhol na América, e quem sabe coroar-se “rainha do rio da Prata”. Autêntica amante do poder, ela poderia, até mesmo, invadir o Brasil e destronar o marido, dom João.
Com base em documentos históricos e testemunhos de quem conviveu diretamente com a “princesa rebelde”, Memórias
de Carlota Joaquina — a amante do poder, do renomado autor Marsilio Cassotti, apresenta uma Carlota que, em primeira pessoa, faz revelações surpreendentes sobre sua vida: as intrigas políticas de sua pérfida e refinada mãe; o casamento aos dez anos de idade com João; os choques com a conservadora corte portuguesa; a hipocrisia do “aterrorizado” e sexualmente ambíguo esposo; as contínuas gravidezes e partos; a disparatada fuga dos Bragança para o Brasil; sua fria relação com o mulherengo dom Pedro; a tensão com a “dissimulada Leopoldina”, e, ainda, seu desespero por ter de deixar, em 1821, «esta mina bem carregadinha que é o Brasil”.
Uma apaixonante e instrutiva biografia histórica, de ritmo ágil e estilo ameno, narrada pela mulher mais conhecida, excêntrica e difamada da história do Brasil, além de uma análise original e inteligente, de grande atualidade, das sombras e ambiguidades do poder político de rainhas e princesas consorte europeias. E, por que não, de candidatas à presidência e presidentas de repúblicas sul-americanas.