Talvez seja certo que sem serem provocadas pelo confronto com uma obra de arte muitas pessoas não ousariam lançar um olhar estético. Mas o que tenho a certeza é que, se a arte está tanto no objeto como na nossa visão, pela sua mera presença, a arte faz de todos nós artistas.
A partir do momento em que ela se oferece, a arte é roubada a quem a criou e navega nos olhares, ou ecoa nos tímpanos, de quem lhe assiste. E são esses muitos os seus verdadeiros criadores, ou os mais importantes, porque, se houve um que lhe deu o pretexto da existência, os demais asseguram-lhe a perenidade. É nesta rede de olhares que o efêmero vive e se sobrevive, multiplicando o eco de seu tempo através de todos os outros tempos, igualmente circunstanciais e fugazes. Por isso, Milton José de Almeida pode encontrar a memória do cinema num anônimo da Roma clássica ou em pintores da Renascença italiana. Dessa maneira, o homem, que constrói a história, confunde-lhe os traços erguendo, por cima, o jogo de espelhos da eternidade.