Por Angélica Freitas
Esta é a história de uma paixão entre duas mulheres. Uma paixão, com tudo o que pode conter de encantamento e dor. A narradora leva uma vida sem grandes emoções. Tem um emprego de professora, um namorado (que gosta mais dela do que ela dele), uma filha pequena, por quem se esforça para ser uma boa mãe. Tudo parece estar nos conformes. E então aparece Sarah, cheia de vida, som e fúria. E bagunça tudo.
Comecei a leitura esperando uma história sobre a descoberta do amor lésbico, todo ímpeto e fogos de artifício. Sobre o olhar amoroso, que muitas vezes é um olhar de cuidado. Sobre ficar imóvel na cama para não acordar quem dorme em cima do teu braço já anestesiado. Sobre os momentos despertos, de madrugada, testando com os cinco sentidos se aquilo é mesmo real. («Quando estou contigo, não dormimos a noite inteira./ Quando não estás aqui, não consigo dormir./ Graças a Deus por essas duas insônias!/ E a diferença entre elas.»
Isto é Rumi, que traduzi aqui rapidamente do meu exemplar, que está em inglês.) O que vem depois do desregramento dos sentidos? Reconheci a distância, a falta, a fome. Torci pelas personagens. Me indignei com elas. O que estavam fazendo da vida? Mas isto é literatura. E eu não estou aqui para dar spoilers. Existe uma palavra em francês que sempre me chamou a atenção: bouleverser. O som me faz imaginar uma bola de boliche arremessando inocentes garrafinhas brancas pelos ares.
Segundo o dicionário que acabo de abrir, bouleverser é «causar grande desordem por meio de uma ação violenta». Depois de ler «Sarah é isso», fiquei assim, buleversada. Talvez vocês também fiquem.