A produção de narrativas e a produção de conhecimento no Ocidente moderno fazem parte de um processo que se desenvolveu concomitante, e de maneira indissociável, às dinâmicas de colonização do continente americano. Partindo deste pressuposto, esta investigação tem como proposta inquirir sobre as condições modernas e coloniais da produção de representações e de conhecimento sobre o corpo indígena no século XVIII, através da análise de duas obras escritas por padres da Companhia de Jesus que missionaram na região do Chaco em meados do referido século — a saber, a Historia de los Abipones (1784), do Padre Martin Dobrizhoffer SJ, e Hacia allá y para acá (1780), do Padre Florian Paucke SJ. O percurso de composição narrativa desta investigação passa por refletir teoricamente sobre a relação entre os conceitos de narrativa, conhecimento e representação, referenciando-os à conjuntura de desenvolvimento da modernidade e da colonialidade entre os séculos XVI e XVIII. Através desta reflexão, busca-se identificar quais as contribuições e as idiossincrasias das narrativas dos padres jesuítas no panorama intelectual dos setecentos, sobretudo na construção e na representação dos corpos dos distintos grupos indígenas do Chaco.