Este livro apresenta uma série de reflexões sobre o agenciamento sociotécnico causado pela pandemia de Covid-19. Mais do que uma entidade biológica, o vírus é um constructo social. Mais do que um objeto, um artefato, a tecnologia é também um constructo social. Pensar o vírus e as tecnologias como “nature-culture” (Haraway, 2008) nos permite vinculá-los de forma mais concreta à dimensão associativa, vinculando humanos e não humanos, nos ajudando a compreender melhor os desafios em jogo. Essa é a perspectiva ontológica e metodológica adotada em todos os ensaios aqui apresentados, ou seja, uma perspectiva pragmática, imanente, materialista das formas que a sociedade encontra para produzir, compreender e resolver o dilema causado pela pandemia, e como a cultura digital participa desse entrelaçamento (Barad, 2007).
Homem e tecnologia não são entidades separadas (sujeito e objeto), assim como o vírus não pode ser entendido como unidade biológica isolada (natureza e cultura). São modos de existir, formas de agir, tipos de arranjos (dispositif, assemblage) que revelam soluções particulares de uma coletividade (o social). A técnica não é ferramenta ou instrumento nas mãos do sujeito que domina o sentido (como significação e direção) da agência, ou sofre as consequências retroativamente. A tecnologia é como um vírus, e o vírus como uma tecnologia: eles disparam ações, mobilizando amplas redes, afetando o coletivo.