Em seu mais ambicioso empreendimento literário, Juremir Machado da Silva conta com uma dupla chancela editorial, que une a Figura de Linguagem — editora criada e dirigida por indivíduos negros — e a tradicionalíssima e incansável Editora Sulina. A edição conjunta é necessária para dar conta da enorme tarefa apresentada pelo autor: construir um projeto estético em que caiba um livro do tamanho de Acordei Negro, a mais radical experiência literária produzida por um indivíduo branco, em território nacional, até o momento. A obra gira ao redor de um narrador complexo, que ora mistifica os indivíduos negros, ora os adula, em um duelo simbólico em que méritos íntimos e vergonhas históricas se misturam. Acordei Negro. Trata-se aqui do uso eficiente do exíguo lugar de fala de um homem branco que, com profunda consciência de sua responsabilidade na construção das desigualdades sociais, resolve medir as limitações que o racismo impõe à sua própria maneira de ver o mundo. De sobra — e sobra bastante coisa — Juremir pretende arrancar a literatura gaúcha do século XIX e reposicioná-la no século de Jordan Peele, de Michel Houellebecq, de Jonathan Franzen e de Chimamanda Ngozi Adichie com todo o risco, todo o pus e todo o sangue que um movimento violento como esse provoca. Coedição com a editora Figura de Linguagem.