«Memória no Esquecimento» começa a seguinte frase, que soa como uma sentença filosófica, «O que é mais doloroso: não conseguir esquecer ou não conseguir lembrar?». Falar sobre memória é muito mais do que dissecar estruturas neuronais, sinapses, monoaminas neurotransmissoras, avaliar performance em testes cognitivos ou explanar sobre as demências. É sobre quem somos, como enfrentamos batalhas na infância, como resgatamos as histórias marcantes, aqueles momentos de encanto ou então de busca por um canto, um silêncio para chorar e recomeçar.
Em tempos nos quais o Alzheimer é tema cotidiano e atinge cada vez mais pessoas, a arte mergulha no esquecimento. Situações tristes que rodeiam dramas familiares e paixões que resistem ao desgaste e acabam por vencer o esquecimento são roteiros que apresentam aos desavisados o que pode acontecer com todos nós. Quem garante o contrário?
Nesse romance, o pensador e escritor Juremir Machado da Silva lança mão de potentes recursos literários ao mergulhar no esquecimento de seu protagonista. Constrói uma narrativa com detalhes ora poéticos, ora realistas, testemunhos de sutilezas do cotidiano de uma pessoa fragilizada. Fala também de vivências comuns, como o andar de bicicleta até perder o fôlego, o amor de um cachorro de estimação pegado ainda filhote, os mistérios familiares e as ilusões que se carrega ao longo da vida. Impossível não querer descobrir as peças do quebra-cabeças da história — assim como não parar e se pegar pensando sobre o conjunto de suas próprias lembranças, identificar as paredes do próprio castelo.