Este livro é o segundo da Coleção Povos e visa divulgar trabalhos resultantes de projetos e de grupos de pesquisa que atentam às conformações sociais, culturais, políticas, econômicas e demográficas de sociedades ibero-americanas nos espaços de conquista modernos e na contemporaneidade. Por conseguinte, os povos que a coleção deseja dar a conhecer incluem grupos e indivíduos de condições sociais e qualidades variadas, como senhores e cativos, livres e libertos, índios, elites religiosas,
econômicas e políticas, mestiços, entre outros, nenhum dos quais formava um grupo homogêneo.
O livro, igualmente, resulta de um percurso de intercâmbio acadêmico, em perspectiva holística e comparada. Pois, desde os anos 2000, integrantes do grupo de pesquisa Escravidão e Mestiçagens: poderes, povos, lugares e trânsitos culturais no Novo Mundo, composto por historiadores da escravidão de universidades brasileiras e estrangeiras, perscrutam aspectos relativos à construção de memórias e a mestiçagens biológicas e culturais em sociedades ibéricas e americanas durante a época moderna. A empreitada tem sido um grande desafio, mas ao mesmo tempo redundou em sólidas pesquisas frutos de trocas salutares.2 Entre trocas de ideias e acalorados diálogos, o grupo se deparou com integrantes do grupo de pesquisa Antigo Regime nos Trópicos, focado, entre outros aspectos, na compreensão de hierarquias sociais escravistas acopladas a estruturas de antigo regime em áreas de conquista.3 Foi a partir de constantes debates — que, recentemente, contam com o grande incentivo do Programa de Pós-graduação em Ensino, Mestrado Profissional em Ensino de História e do Laboratório de Estudos da Escravidão e das Mestiçagens da Universidade Estadual da Bahia (Campus Vitória da Conquista) — que a ideia do livro ganhou corpo, haja vista preocupações comuns em compreender as relações entre lugares (locas) e o mundo (orbis).
A proposta é refletir sobre sociedades que habitaram diferentes rincões coloniais e pós-coloniais marcados pela mestiçagem, pela diferença, por distintas formas de governo e mecanismos de coerção, por conflitos culturais, religiosos e políticos. Assim, o objetivo da obra é compreender as manifestações de poder e de seus tentáculos que escapavam às instituições e se faziam perceber nas representações coletivas.
O livro também investiga os percursos de mobilidade social, manifestações religiosas e políticas de diferentes agentes sociais, fossem eles escravos que mercadejavam cativos, ex-escravos senhores de cativos, mulheres poderosas ou, ainda, mestiços cosmopolitas, abolicionistas. Índios e mestiços incas complementam o universo multifacetado dos povos impactados pela escravidão e por suas instituições políticas, econômicas, religiosas e médicas nas Américas.