Tomando a Educação Física como um dos modos de sujeição e domesticação mais eficazes na modernidade, este livro faz importantes revelações. Ao historicizar as práticas modernas de produção do corpo e da subjetividade, instauradas pela Educação Física no Brasil, com base em modelos europeus, o livro questiona a autoimagem de saber científico neutro dessa Ciência, destinado a formar o bom cidadão da pátria. Desvenda, assim, os sofisticados mecanismos pelos quais o poder político discretamente produz seus efeitos. Afinal, receptor privilegiado, o corpo é submetido a inúmeros controles, legitimados por discursos científicos, eugênicos e nacionalistas, em geral importados dos grandes centros europeus. Contudo, falando do passado, este livro tem uma dimensão ética forte, já que visa ao presente. Um presente em que o corpo, na moda, é cercado por novidades tecnológicas e por avanços científicos que prometem a liberdade, a beleza e a felicidade, mas que submetem, domesticam e anulam. Por meio dos programas tradicionais de Educação Física para as escolas, mas também pela proliferação das academias de ginástica, com suas inúmeras tecnologias de ponta, ou, ainda, pela difusão das intervenções cirúrgicas, crescentes no Brasil, modelando, corrigindo, prometendo melhorar o “visual” e “cuidar do corpo”, difunde-se o sonho de criação de uma humanidade perfeita, saudável, pura, branca, alta, que parece nos cercar cada vez mais compactamente. Ao revelar as origens históricas pouco nobres das formas de produção do corpo pelas elites cultas, em nosso passado relativamente recente, este livro expõe um alerta em sua reflexão crítica sobre nosso mundo, e aponta para uma luta pela liberação do corpo dos múltiplos controles que o afetam e das muitas mitologias que ameaçam constitui-lo na contemporaneidade.