Um dos campos de estudos mais férteis das últimas décadas é o resgate da história dos africanos e seus descendentes e a valorização da cultura e tradições negras no Brasil. Resultado do «II Seminário História Social da Língua Nacional», realizado na Fundação Casa de Rui Barbosa em outubro de 2010, este livro discute questões da diáspora africana relacionadas ao processo histórico-social da língua nacional, considerando o tráfico de escravos e as redes do mundo atlântico como travessia de homens, culturas, línguas, modos de comunicação e vida social.
Ao pesquisarmos a escravidão, percebemos que as estratégias de comunicação criadas pelos próprios africanos e descendentes foram tão importantes quanto as formas de imposição da língua senhorial, haja vista a persistência de línguas maternas, o surgimento de línguas gerais, os usos rituais e secretos de códigos próprios. Como explicar que a formação do Estado nacional no Brasil, sustentada na mão de obra escrava e nos privilégios da classe senhorial, foi também a experiência de gestação de um mundo das letras, com grande número de descendentes de escravos, libertos e africanos entre seus agentes, inclusive os mais ilustres?
No Brasil contemporâneo, o esforço de apropriação dos instrumentos de poder, como a língua culta, os códigos legais, a educação formal, é um caminho que afirma vínculos comunitários e atuações políticas e identitárias.