Você sabe qual a grande força da obra de Marx, Freud, Darwin e outros que tais?É a sua irresistível capacidade ficcional e narrativa, que fez com que se constituíssem nestes séculos por aqui saberes e ciências do ser humano que o amesquinham e apequenam, que o coisificam como máquina química fabricada pelo acaso das forças materiais.Não estou dizendo que eles estão errados… nem que estão certos. Estou falando que, grandes romancistas que foram, usaram o poder encantatório da linguagem para amesquinhar as pessoas.A sua obra, minha amiga, faz justamente o contrário disso. Mais que fenomenologia, mas coerente com a mestria dos escritores que desde a antiguidade nos dão acessos às nossas próprias costas, a aquilo em nós que não conseguimos ou com muita dificuldade conseguimos ver. Enxergar.É sempre uma delícia e uma libertação ler os seus romances.As visitas de Viridiana nos mostram uma nova e genial dupla quixotesca: a curta visão e razão da dona do título do livro, mas o seu grande e amoroso coração, que se junta ao sobrinho Jonas, seu escudeiro, estudo profundo do pensamento de um portador de Síndrome de Down, de um “especial”, e que escaneia como nenhum psiquiatra, psicólogo ou neurologista já fez sua grandeza, sua inteligência e suas nuances.Como nas obras anteriores, Cláudia Tavares nos traz e demonstra a mais abjeta miséria humana como ponta de um arco que vai até o céu, com as sete cores do nosso ser, e que nos liga sempre ao mundo divino.