No momento de retração democrática que o país vive, fica cada vez mais claro que a resistência popular depende da mobilização e da ação nas ruas, uma vez que os aparelhos do Estado — como apontava uma velha literatura marxista, que volta a ganhar uma atualidade inegável— estão voltados à reprodução da dominação.
O livro de Thiago Trindade é uma oportuna contribuição a esse debate. Fruto de uma tese de doutorado defendida em 2014, dialogando com as importantes pesquisas sobre participação política e construção democrática feitas no âmbito da Unicamp, o livro adota uma perspectiva ousada, mas que se torna cada vez mais merecedora de atenção: a valorização das formas de participação popular mais conflitivas e extrainstitucionais, em que o enfrentamento com os poderes públicos tem pelo menos tanta importância quanto a negociação e o diálogo.
Para isso, Trindade trabalha em dupla frequência, uma mais teórica, outra mais empírica. Ele revisita os debates sobre participação política e democracia e, ao mesmo tempo, investiga a dinâmica de um movimento que jamais abriu mão de formas de ação disruptiva, o movimento pela moradia da cidade de São Paulo.