A técnica analítica formulada por Freud foi elaborada visando ao atendimento de pacientes neuróticos, nos quais o conflito psíquico se revela por meio do retorno do conteúdo recalcado e, após a “virada de 1920”, essa técnica não sofreu alterações. Contudo, ao nos depararmos com patologias marcadas pelo traumático, tais como os estados limites, encontramos outro campo de padecer psíquico que torna necessárias outras abordagens clínicas que completem e ampliem as postulações freudianas, isto é, torna necessário um manejo clínico distinto do das neuroses. Então, tendo como fundamento a teoria freudiana a respeito da técnica analítica, como poderíamos tornar o manejo clínico acessível às patologias distintas da neurose?
O objetivo central deste livro é justamente refletir sobre a questão do manejo clínico no processo analítico dos estados limites. A autora delineia a construção de suas investigações a partir dos seguintes questionamentos, suscitados no decorrer do atendimento de pacientes limites: qual é a singularidade do manejo da transferência na análise dos estados limites? Como lidar no contexto analítico com os elementos que não estão representados no psiquismo?
Visando a dar conta dessas questões, são elaboradas as noções de «implicação» e “reserva” do analista, assim como a dimensão de contratransferência, a qual possui grande relevo no atendimento desses casos.
Partindo desses elementos, a autora se dedicou ao aprofundamento e ao desdobramento da noção de construção em análise, visando a sublinhar o fundamental papel que desempenha este instrumento na clínica dos estados limites. A noção de construção é articulada à de figurabilidade, com a intenção de demonstrar como o recurso da construção, no contexto clínico, pode ser considerado como processo de criação de uma forma para as marcas traumáticas, via por meio da qual se pretende abrir caminho para a sua contenção.