O século XIX foi emblemático para a história da alimentação, com as mudanças decorrentes das transformações capitalistas, que incluíram não apenas a revolução tecnológica na preservação dos alimentos, mas também os deslocamentos de produtos, sabores e pessoas nunca antes vistos.
A história da gastronomia pode ser tratada de diferentes maneiras: a forma como se consumiam os alimentos, a história do abastecimento ou de determinados alimentos, como o pão ou o sorvete. Mas, no caso deste estudo, a ideia é combinar a história da alimentação à da urbanização e da economia de São Paulo no século xix. E, ao fazer isso, algumas questões colocam-se em primeiro plano. A mais evidente diz respeito às mudanças da cidade ao longo do século xix. Assim, buscou-se pensar uma história da alimentação que refletisse a economia da cidade, para englobar a economia da vida cotidiana, a economia dos alimentos e de seu consumo e as práticas sociais ligadas a esse consumo.
Para a história da gastronomia, as mudanças operadas pela industrialização dos alimentos foram de tal maneira radical que em seu lastro vieram também as transformações no comportamento e, sobretudo, nos hábitos do cotidiano. Mais pessoas passaram a comer diferentes alimentos, vindos de diversos lugares do globo. O comportamento social transformou-se com a introdução desses alimentos industrializados, como a cerveja ou e gelo. As transformações decorrentes do dinamismo das exportações de açúcar e, principalmente, mais tarde, de café — crescimento da população, ampliação da rede de serviços, estradas, chegada de imigrantes criaram condições para a adoção de novos costumes burgueses e, gradativamente, ajudaram a impulsionar o surgimento de negócios e empresas.