A produção acadêmica no Brasil sobre a participação de civis no conluio e na consolidação da ditadura bonapartista que se abateu sobre o Brasil no período de 1964 a 1985 ainda é muito escassa e pouco difundida, o que, por si só, justifica a publicação da presente obra.
Por outro lado, as reflexões contidas no livro rememoram um passado recente cujos protagonistas hegemônicos — empresários, juristas, elite transnacional — ceifaram de forma indelével a frágil articulação da sociedade civil, recém-emergente naqueles idos dos anos de 1950, ainda no rescaldo do bonapartismo varguista.
Apreende-se da leitura dos textos como agem, antes e em todos os tempos de nossa história republicana, tais protagonistas civis, cuja fragilidade é inerente ao tardio capitalismo, e como se respaldam nas forças armadas para fazer valer seus interesses de classe em nome dos valores universais da sociedade brasileira, transmutando a institucionalidade do Estado em um organismo esquizofrênico cuja máxima parece ser: o Estado contra o povo, particularmente contra aqueles cujas demandas são afeitas à inclusão na dita democracia.
No interior dos itens que compõem o livro, tal perspectiva se enuncia — Antes do golpe, O Direito na Ditadura, Empresas, Relações internacionais, A Comissão Nacional da Verdade e o futuro — e comprova que, quando se toca na essencialidade de um problema, não é necessário alongar-se muito: poucas palavras dizem muito.