A obra O lugar da pessoa com deficiência na história: uma narrativa ao avesso da lógica ordinária mescla componentes sociais, antropológicos e políticos na descrição de como as distintas temporalidades se comportaram em relação à experiência da deficiência. Não se trata de um livro mais do mesmo, pois ao escovar a história a contrapelo, desestabiliza as narrativas oficiais, implodindo, assim, a falsa lógica evolucionista de que temos caminhado culturalmente da exclusão para a inclusão. Este é o grande diferencial trazido por este texto, o qual, composto de uma literatura, via de regra, desconhecida em terras brasileiras, apresenta contribuições originais e inauditas que nos permitem reorganizar mentalmente a experiência da deficiência.
O livro basicamente se divide em duas partes, uma de corte histórico e outra de verniz político-ativista, ainda que ambas se mesclem no universo intelectivo projetado. Inicia destacando a complexidade que envolve a definição da deficiência como fenômeno historicamente construído, máxima tornada autoexplicativa por acadêmicos e utilizada sobejamente na contestação de raciocínios que esculpem sobressaltada condição exclusivamente por linhas clínicas. Todavia, destacado raciocínio tem se materializado sem um debruçar sobre os núcleos constituintes da dita sentença, tornando-a apenas um palavrório da moda. Daí a necessidade de se ir até a raiz desse composto analítico. Não por acaso, esta obra perpassa distintas épocas cronológicas, no intuito de arquitetar os alicerces desse quadro imagético, somente possível de percepção quando alinhavado sob uma perspectiva histórica transversal.
A segunda parte da obra destaca a importância que os movimentos ativistas de pessoas com deficiência desempenharam na conquista de múltiplos direitos, os quais exerceram impacto decisório na vida desses sujeitos, incluindo a ressignificação conceitual do fenômeno vivenciado. Apresenta, outrossim, lacunas que ainda precisam ser trabalhadas na composição de uma literatura efetivamente crítica e que tome em consideração a complexidade dialética da experiência da deficiência. Por fim, lança o desafio em se tornar a representação política nacional mais democrática pela incorporação desse público nas arenas de poder instituídas, recurso fundamental no que tange à projeção de políticas públicas que tomem em consideração seus genuínos e defensáveis interesses por justiça e igualdade de acesso.