O desenvolvimento do caráter e da personalidade da criança acontece no convívio com os responsáveis por dar-lhe afeto, cuidados e educação. A família atua na vida de seus membros pela internalização das experiências na vida intrafamiliar. Uma família violenta dissemina a violência na sociedade: a criança vitimizada sofre e tende a replicar o mesmo padrão de seu sofrimento em suas relações, tanto na infância como posteriormente na vida adulta com a sua nova família. A violência contra a criança revela um lado perverso de famílias que, no exercício do poder, submetem e aniquilam o outro. Os responsáveis, em seus papéis de pais e mães, não podem deixar que a criança seja a depositária do estresse da pobreza, da falta de tempo combinada com o desequilíbrio emocional de inúmeros adultos. A fragilidade social brasileira, nos cuidados de suas crianças, é expressa, inclusive pela necessidade de se ter uma lei para proteção da infância, o Estatuto da Criança e Adolescente — ECA. A escola, como um fator de proteção da criança, testifica, por meio de seus agentes escolares: diretores, professores, merendeiras e inspetores, o sofrimento a que tantas crianças são submetidas, e que reflete na instituição escolar. O resgate de algumas narrativas da tradição oral, neste estudo, revelou que os valores culturais desde os nossos antepassados ainda rondam a sociedade atual, pois os recontos das narrativas refletem a cultura em que estamos imersos, e essa cultura ainda é repleta de violência.