O livro Eugenia & higienismo: Educação como suporte — Remédio do Estado — Efeitos Colaterais para a Infância apresenta uma narrativa crítica sobre o percurso histórico da construção das políticas do Estado para a infância. Essa trajetória inicia-se na modalidade de filantropia até as políticas serem incorporadas como ações e deveres do Estado para amparo e assistência da infância brasileira e seus problemas de ordem social e de saúde.
Tal construção remonta à primeira metade do século XX no Brasil, quando o país foi cenário de grandes transformações, e o período foi marcado pelo desejo de uma elite política e econômica de superar os problemas do país, elevando-o a patamares considerados “civilizados”. Aos graves problemas brasileiros já existentes juntaram-se outros, como aqueles provocados pela chegada de imigrantes.
As péssimas condições de vida nas grandes cidades levaram ao aumento da criminalidade, ao abandono de crianças e, de um modo geral no país, à disseminação de doenças com alto grau de mortalidade. Difundia-se no Brasil um forte discurso de que a saúde do povo seria obtida com a prática de medidas higiênicas e de segregação de pessoas que provocassem os denominados “males sociais”.
Emerge então um movimento de valorização das crianças enquanto «futuro da nação», a demandar proteção, amparo e cuidados do governo central. É nesse contexto que o presente livro se insere, ao analisar o lugar que as crianças ocuparam na sociedade cuiabana na primeira metade do século XX, com foco em três pontos: o espaço escolar, a atenção à saúde e o âmbito familiar.
Procurei pelas vozes dessas crianças em fontes de diferentes origens: oficiais, como leis e regulamentos, nacionais e estaduais; notícias divulgadas em jornais e revistas; registros impressos de memórias, interpretando as informações obtidas à luz de estudos sobre o tema. Desse modo, ao procurar as vozes das crianças cuiabanas, busquei analisar o vivido por elas, seus locais de pertencimento e as políticas de Estado aplicadas a elas na primeira metade do século XX.