A Ceia é um romance que, por meio da tragédia pessoal de doze homens com doenças graves, discute a angústia existencial do ser humano que luta pela vida e busca o seu sentido, sabendo-se, embora, destinado à decadência física e à morte.
Por meio de uma narrativa não-linear, em que se mesclam fatos do presente, memórias passadas, sonhos e delírios do personagem central, reconstitui-se a história de Raul, ser atormentado por um incidente dramático da juventude. Raul é um estudante pobre, que se torna melhor amigo do jovem e rico Lúcio, seu colega na escola de Medicina, com quem partilha noitadas boêmias na cidade do Recife. Ao contrair lepra — doença considerada um estigma e incurável na época — Lúcio afasta-se do convívio social, à espera da degradação física de seu corpo. Em comum acordo com outros colegas de Lúcio, que também não desejam que ele se degenere em vida, Raul entrega ao amigo o revólver que o induzirá ao suicídio. Atormentado pelo fato, que o encherá de remorsos — principalmente depois que descobre, anos mais tarde, que a lepra já começa a ter indícios de cura –, Raul abandona os estudos e refugia-se na selva do Araguaia, onde trabalha no garimpo e no «Serviço de Proteção aos Índios», na tentativa de esquecer e esconder o passado. Inutilmente, porém. Num incidente, ele se fere gravemente, e com o tempo, seus ferimentos malcuidados agravam-se de tal maneira que os médicos pensam em amputação como a única e remota possibilidade de sobrevivência.