Numa época indefinida de um século XXI já avançado, uma banqueira — «a princesa das finanças» –, que vive numa cidade portuária do noroeste europeu, pega um avião com destino à região espanhola da Mancha, que Miguel de Cervantes tornou tão famosa. De lá, dirige-se à Sierra de Gredos. Sai em busca de um escritor que contratara para narrar sua história. Depara-se com uma cidade, imaginária, cujos habitantes — uma curiosa galeria de personagens — experimentam uma perda total de imagens, idéias, ritos, sonhos, ideais e leis. Um efeito do mundo que os rodeia, no qual as mudanças climáticas são um fato, as guerras são contínuas, as sociedades se agrupam em âmbitos locais e os meios de comunicação inundam as vidas cotidianas.
O romance discute o papel dos meios de comunicação que moldam grupos humanos uniformes e vê a propagação de imagens como geradora de grandes vazios de conteúdo. Uma história sobre o entusiasmo perdido e reencontrado.
O grande escritor austríaco, sempre nas listas dos nobelizáveis, nos entrega aqui uma vasta reflexão sobre a validade da escrita e sobre a posição de um autor no momento de se entregar a seu ofício: composição de personagens, escolha da ambientação, situação no tempo. Mas para tanto compõe uma obra de grande complexidade que focaliza o mundo imagético de hoje e a perda dos registros tradicionais, como se tudo estivesse borrado, descartado e todos estivessem dessensibilizados e perderam a noção do tempo e dos registros, tratando de recuperá-los. Titanesca literária busca de um autor que se recusa a não se recolocar em cada uma de suas obras.
A perda da imagem ou Através da Sierra de Gredos foi bem recebida pela crítica em língua alemã. O prestigioso jornal Süddeutsche Zeitung considerou a novela como “o grande contra-livro” frente ao realismo fácil que impera hoje na literatura alemã e «a reconquista das pás dos moinhos” de Dom Quixote.