Crepúsculo dos ídolos (1889), último livro a ser publicado em vida pelo filósofo alemão, é, eminentemente, uma obra de maturidade. Como nos diz o próprio Nietzsche em seu ensaio autobiográfico intitulado Ecce homo, «esse escrito (Crepúsculo dos ídolos) que não chega a cento e cinqüenta páginas, fatal e sereno no tom, um demônio que ri, obra de tão poucos dias que hesito em dizer seu número, é a exceção entre os livros; nada existe de mais rico em substância, mais independente, mais demolidor — de mais malvado». Estas três qualificações o definem radicalmente. Ele é rico em substância — pois se aproxima das mais diversas configurações deste ídolo histórico chamado verdade -, independente e demolidor. Uma obra de exceção porque dá voz a esta composição tão caracteristicamente nietzschiana entre destruição e renovação. O seu subtítulo aponta para o sentido mais originário desta composição; ou como filosofar com o martelo. O martelo quebra a rigidez com que os ídolos (a verdade em suas múltiplas facetas) buscam se conformar de uma vez por todas. Ao quebrar esta rigidez, ele não aniquila simplesmente o que antes estava já constituído, mas devolve a ele sua vitalidade e sua graça.