O catolicismo, que desembarcou por aqui a partir da colonização portuguesa, foi se moldando de uma maneira um tanto polifônica, talvez mesmo informal, que inclui a veneração aos santos canônicos, aos santos populares e a espiritualidades cruzadas por influências indígenas e africanas.
No panorama histórico e cultural apresentado em Santos de casa: fé, crenças e festas de cada dia, interessa ao historiador Luiz Antonio Simas — que tem se dedicado em uma série de livros a inventariar as culturas e tradições brasileiras, ou seja, as brasilidades — entender não apenas como a igreja santificou as mulheres e os homens ao longo do tempo, mas, sobretudo, como o povo humanizou os santos nas invenções cotidianas da vida praticada na dimensão do encantamento do mundo. Assim, entram em cena festas, quermesses, crendices, benditos, ladainhas, cheiros, sabores, procissões, novenas, simpatias, ventos, fogueiras, encruzilhadas, presépios e outras expressões da paixão e da fé do povo brasileiro. Trata-se de uma declaração de amor — embasada em pesquisas, memórias e afetos — ao cristianismo do assombro e do universo fantástico do povo festeiro do Brasil. A edição é impressa em cores e fartamente ilustrada com imagens de mais de 20 santas e santos feitas pela artista Aline Bispo.
«Não questionamos nem afirmamos a veracidade dos relatos que se seguem. A mentira para quem não crê, como lembrou o poeta Jorge de Lima, é o milagre para quem sofreu. Guimarães Rosa dizia que os santos foram homens que alguma vez acordaram e andaram os desertos de gelo. Tentemos ao menos acariciar, ainda que minimamente, o espanto e o assombro dessas caminhadas.»
Luiz Antonio Simas